Gauguin: o não turista?


Era uma vez um artista que teve o seu trabalho e vida revolucionados após a vivência além mar. Eugène-Henri-Paul Gauguin (1848-1903) foi um pintor francês que apesar de ter viajado muito, foi durante a sua passagem pelo Taiti, a maior ilha da  Polinésia Francesa, que teve a sua obra marcada em definitivo.




Eugène-Henri-Paul Gauguin (1848-1903)



Quem também ficou marcada foi a ilha, que até hoje sustenta um mercado turístico sobre Gauguin, desde cruzeiros, tours, museu, souvenirs e até mesmo à visitação ao túmulo do artista. Mas atualmente sinto que Paul Gauguin se tornou uma marca superficial para atrair turistas...mas isso é outra história, vamos nos focar na questão: ser ou não ser turista de Gauguin.




Fotinha quase de plástico de uma das empresas que exploram o destino. 
https://www.travelpulse.com/opinions/blog/enjoy-paul-gauguin-cruises-very-own-private-island.html




Para Staszak(2003) Gauguin foi um artista, mas não deixou de ser turista. E eis que surge a velha máxima para reflexão: viajante X turista. Em 1891, cheio do imaginário ocidental, estereotipado da época, com a exotização e erotização do Taiti, o artista teria feito um esforço para não ser lembrado como um colonizador ou turista. Ser o primeiro no lugar, ou como diria Urbain (1993) teria sofrido como qualquer outro turista da “Síndrome de Armstrong”, pois luta por não ser tido como um turista banal, superficial e se esforça para não estar perto dos turistas para não ser confundido com eles.



Contudo, antes de viajar para o Taiti pesquisou sobre o destino, leu livros e reuniu todas as informações para a sua viagem, como qualquer turista faria. Mas isso não seria o normal?!



Gauguin teve o cuidado de deixar escrito que vivia como um nativo e entre eles. Dessa forma, deixou a imagem de um artista europeu que havia se tornado taitiano para desenvolver obras para os críticos de arte e clientes ocidentais. 



O artigo nos passa a ideia de que o pintor era mais um turista do que um etnógrafo. Pois as suas pinturas remetiam ao mesmo imaginário dos turistas, como podemos observar nas imagens abaixo, a semelhança entre a pintura de Gauguin e um cartão postal publicado antes da passagem de Gauguin pela ilha.






Cartão postal com fotografia de Henri Lemasson, 1897 e à direita Two Women de Paul Gauguin, 1901/1902. Fonte: Staszak,2003.




Em técnicas diferentes, a primeira fotografia e a segunda pintura, as imagens são similares. Uma mulher mais velha com as mãos e uma jovem "As semelhanças entre as pinturas e os cartões postais de Gauguin não desqualificam seu trabalho, mas mostram até que ponto seu imaginário e sua visão do Taiti se equipararam aos de outros viajantes e fotógrafos." Staszak (2003) é ainda mais crítico quando levanta a hipótese de Gauguin ter sido o primeiro turista sexual da história moderna. Como é? Será?!

Mas aponta outras ideias interessantes, como por exemplo, a reflexão de que o artista e o turista buscam as mesmas coisas quando viajam e ambos ao retornarem, também organizam a verdade de forma a tornar a sua experiência mais autêntica e aventureira, assim como Gauguin fez. “Negar o status de turista pode ser visto como uma atitude turística típica.” Quem nunca?

Para quem quiser ler o artigo e todas as ideias de Jean-François Staszak, pode visitar o link abaixo. Aliás esse autor disponibiliza na plataforma Academia.edu vários outros artigos que discutem temas delicados do turismo que nem todos tem coragem ou estômago para debater:
https://www.academia.edu/7563301/J.-F._Staszak_2013_The_artist_and_the_tourist_Gauguin_in_Tahiti_in_Rakic_T._and_Lester_J.O._eds_Travel_Tourism_and_Art_London_Ashgate_pp._191-206

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