As viagens de Élisabeth Le Brun
Em 1789, a Revolução Francesa obrigou muitos artistas a deslocarem-se e reinventarem-se. Uma destas, foi a francesa Élisabeth Louise Vigée Le BRUN, conhecida pela técnica apurada e pela ousadia em retratar senhoras a sorrir. No auto-retrato abaixo, Louise não escapou das críticas, por ter-se pintado com um leve sorriso e com a filha ao colo, também a sorrir (claro!). Ao deixar Paris, iniciou a jornada rumo ao desconhecido, acompanhada da única filha, levou apenas o suficiente para cobrir as despesas da viagem.
Durante o exílio de três anos, Vigée Le BRUN viajou e trabalhou, consolidando sua reputação como uma das maiores retratistas de sua época. Na Itália visitou o Palácio Pitti e a Galeria Uffizi, onde foi convidada por Giuseppe Bencivenni Pelli para produzir um autorretrato para a coleção Uffizi, obra que ficou pronta em apenas um mês e meio! Mesmo distante de sua terra natal, a artista viajante não deixou de homenagear a rainha Maria Antonieta, como pode-se encontrar no autorretrato abaixo, onde Le Brun esboça a rainha na tela de seu autorretrato com o sorriso sutil, considerado uma ousadia para a época.
Depois da Itália, seguiu para a Áustria (1792-1795), Rússia (1795-1801) e Alemanha (1801). Em todos os lugares por onde passou, foi recebida com entusiasmo e admiração, ficando conhecida como Madame Le Brun. No detalhe da pintura de Clément Denis, está a cena de uma família, podemos imaginar como eram os deslocamentos e os momentos de trabalho. A filha devia ficar a admirar a mãe e a tentar imitá-la, deve ter feito diversos desenhos e a governanta zelava por todos.
Vigée Le Brun ainda faria breves estadias pela Inglaterra (1803-1805) e pela Suíça (1807-1808), onde pintou uma vista aérea detalhada de um evento tradicional suíço o "Festival dos Pastores".
O legado de Le BRUN, não se resume apenas à pintura. Entre 1835 e 1837, publicou três volumes de memórias, intitulados "Souvenirs", que oferecem um relato dos últimos anos do Antigo Regime, do cenário artístico da época e de suas viagens durante o exílio. Estes escritos, que incluem listas de suas obras e um tratado sobre retrato, revelam a vida glamorosa e, por vezes, dramática da artista, além de anedotas sobre os quadros mais famosos. "Souvenirs" é considerado um testemunho da paixão que a guiou por toda a vida: a arte da pintura.
Referências
S. Osano, in Autoritratti dalla Collezione della Galleria degli Uffizi, a cura di Antonio Natali, Giovanna Giusti, Shigetoshi Osano, Tokyo, 2010, pp. 46-47;
G. Giusti, in I Mai Visti X. Autoritratte. Artiste di capriccioso e destrissimo ingegno, a cura di Giovanna Giusti, Firenze, 2010, p. 69;
J. Baillio in Vigée Le Brun, a cura di Joseph Baillio, Katharine Baetjer, Paul Lang , New York, The Metropolitan Museum of Art 2016, pp. 141-143
Joseph Baillio, in French Paintings of the Fifteenth through the Eighteenth Century, The Collections of the National Gallery of Art Systematic Catalogue, Washington, D.C., 2009, pp. 435-436.