Joakim ESKILDSEN: um fotógrafo viajante em estado de melancolia.

A angústia anuviada nas fotografias da exposição intitulada Cuban Studies / Cornwall / Home Works perturbam. Apesar de encontrarmos vestígios familiares, como ruas com carros antigos em Havana, as paisagens naturais extravagantes na Cornuália, ou ainda as rotinas domésticas de uma família, as imagens parecem advir de lugares paralelos. Resultado de uma luz enigmática, que anuvia o conceito de fotografia como simples representação da realidade. Joakim ESKILDSEN, premiado fotógrafo dinamarquês, apresenta o olhar melancólico de um artista viajante, que observa o avesso, o silêncio, a reflexão, o essencial, aquilo que não está acessível, mas esquecido ou escondido do olhar pelo tirano sistema social contemporâneo.


Haircut, 2013. © Joakim Eskildsen

 

A exposição é um tríptico, pois está dividida e articulada em três abordagens diferentes ligadas pelo facto de serem resultados de viagens ou estadias prolongadas, por Cuba e países europeus. A série Cuban Studies inicia a mostra com o fotojornalismo das características ambientais, sociais e culturais de Cuba entre 2013 e 2016. Nessa época, o fotógrafo europeu lançou o seu olhar para um país latino-americano, que passava por mudanças políticas que propagavam esperança numa nação carente. Essa sobreviveu e resistiu aos anteriores anos de restrições. O retrato de uma criança envolta num pano branco, com porções do cabelo cortado, sugere-nos a renovação da confiança dos cubanos.





Shark Stone, 2017. © Joakim Eskildsen



Cornwall que intitula a segunda parte da exposição, mostra a Cornuália, uma pequena região inglesa com 3.563 km2, que parece ser a que mais atraiu o fotógrafo. Declarou que foi onde encontrou a luz e o clima de predileção: o sol encoberto por nuvens e o frio. As imagens possuem restos de realidades. Apesar de acreditarmos na existência do que vemos nas fotografias, a maneira como a realidade é apresentada deixam dúvidas razoáveis. A fotografia Shark Stone que possui como centro uma pedra curiosa em forma de cabeça de tubarão, lembra-nos da facilidade em encontrar esses predadores nessa costa da península da Inglaterra. Para além disso, a pedra está encostada num muro, feito com pedras empilhadas, indicando-nos a presença do homem na paisagem natural. A imagem ainda é composta com rochas espalhadas, vegetação, rochedos e uma parte do mar, sob o céu totalmente nublado. A luz anuviada promove na imagem cores insólitas e enigmáticas, levando-nos para um ambiente melancólico, mas real.


Home III. © Joakim Eskildsen


Home Works é o título de um projeto iniciado em 2005, quando a paternidade dominou o olhar de Joakim. Como um retorno a própria infância, a ótica experiente revela o poder da inocência das crianças, em deixar enxergar a natureza humana umbilical com a Terra. Une à linguagem nebulosa, obscura e até certo ponto esotérica, com a simplicidade elementar inerente, que é coexistir em família. Após ter passado por mais de seis casas, durante a realização desse projeto, revela-nos de maneira poética que casas há muitas, mas o lar apenas existe, onde existimos. Assim está na foto Home III, a pequena criança com a manta branca em meio a vegetação com um arco-íris num céu nublado, materializa a ideia que o fotógrafo idealiza. 




Sala de exposição do Museu Nacional de Arte Contemporânea em Lisboa, 2021. © Bruna Lobo



 

A primeira exposição em Portugal do fotógrafo Joakim ESKILDSEN é tida como a mais importante atividade promovida pelo Imago Lisboa Photo Festival, que nessa edição, estimulou a reflexão sobre o comportamento da sociedade contemporânea confrontada com as necessidades globais de inclusão sociocultural. Compactuando com a ideia do festival, nessas três séries, do fotojornalismo à fotografia autoral, o espetador em Lisboa é convidado a visitar lugares de natureza social e cultural diferentes, articulados pelo mesmo estado melancólico resultado da luminosidade favorita de ESKILDSEN. Demonstra nessa tríade uma forma particular de fotografia melancólica de destinos de viagem, levando o espetador para recônditos paralelos às vezes angustiantes, desafiantes, taciturnos e outras vezes, surpreendentemente nostálgicos.

 

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