Entre Itália e Inglaterra, Angelika Kauffmann.


Angelika Kauffmann - Auto-retrato - 1784

Angelika Kauffmann (1741-1807), uma luminária da pintura neoclássica suíça, trilhou um caminho artístico, com passagens marcantes pela Inglaterra e Itália. Na Grã-Bretanha e em Roma, Kauffmann ascendeu a uma posição central no cenário neoclássico, notabilizando-se pelas suas pinturas de temática histórica e pelos seus retratos requintados.


Design for a Fan (1775), Yale Center for British Art

A vida como artista viajante começou entre 1754 e 1757, quando partiu da Suíça para a Itália e se hospedou na corte do duque de Modena d'Este, em Milão. Durante essa estadia, pintou retratos da nobreza, desde a duquesa de Modena até o diplomata austríaco Karl Joseph Graf Firmian. Posteriormente, retornou à Itália entre 1759 e 1762 e realizou diversas viagens rápidas com fins pedagógicos a Piacenza, Parma (para estudar Correggio), Reggio, Modena e Bolonha (para estudar Reni e Annibale Carracci). Em Bolonha, foi nomeada membro honorária da Accademia Clementina de Bologna.

Christ and the Samaritan Woman at the Well (1795), oil on canvas, 123.5 x 158.5 cm., Neue Pinakothek, Munich

Depois conseguiu ir para Florença, onde teve direito a um estúdio na coleção Medici, onde fez cópias de G. Cagnacci, Domenichino, Guercini, Raffael, Rembrandt, A. Tiarini e F. Vanni. Abaixo a cópia de um quadro de Domenichino.


Esquerda - Sibila de Cuma após Domenichino (c.1763), Angelika Kauffmann, National Museum of Women in the Arts, New York. Fonte: https://www.wikidata.org/wiki/File:Angelica_Kauffman_-_Cumaean_Sibyl_after_Domenichino_(c.1763).jpg Direita - Sibila de Cuma (c.1617), Domenichino (1581- 1641), Galleria Borghese, Roma. Fonte: https://en.m.wikipedia.org/wiki/File:Domenichino_-_The_Cumaean_Sibyl_-_WGA06405.jpg


Angelika Kauffman testemunhou o fenómeno do Grand Tour e pintou os nobres viajantes que desejavam marcar a sua passagem pela Itália com um retrato, como foi com Joseph Johann Von Fries (1765-1788) que após herdar a fortuna do pai, partiu para o Grand Tour na Itália, onde encontrou Kauffmann.


Joseph Johann Von Fries (1787), Angelika Kauffmann, Historisches Museum der Stadt, Vienna.


Na segunda metade do século XVIII, ao chegar a Roma, a pintura histórica era a tendência dominante no cenário artístico. Somando-se a esse ambiente rico em patrimônio, Kauffmann sentiu-se naturalmente atraída pela pintura histórica clássica. Abaixo, uma deste momento artístico de Kauffmann, a pintura de uma cena da peça de Shakespeare, "Os Dois Cavaleiros de Verona":


Cena da peça "Dois cavaleiros de Verona", 1789, Angelika Kauffmann.

Um marco indelével em sua trajetória foi a participação como membro fundadora da prestigiada Academia Real Inglesa, ao lado de Mary Moser (1744-1819). Contudo, essa "participação" foi marginalizada, visto que, na época, mulheres com qualquer aptidão artística eram frequentemente subjugadas pelo status social vigente. Mesmo que algumas conseguissem superar esses obstáculos iniciais, invariavelmente encontravam uma Academia que as menosprezava. Essa dinâmica fica evidente na pintura abaixo: os acadêmicos da Academia Real Inglesa são retratados em suas poses masculinas, enquanto Kauffmann e Moser figuram enclausuradas, penduradas e emolduradas na parede da Academia.


The Portraits of the Academicians of the Royal Academy, 1771-72, oil on canvas, The Royal Collection by Johan Zoffany. 

Ao longo da vida e carreira prolífica, Angelika Kauffmann realizou diversas viagens que inegavelmente moldaram a sua formação artística e impulsionaram o seu sucesso profissional. No alvorecer da década de 1760, acompanhou o seu pai, Johann Joseph Kauffmann, em jornadas pela Suíça e pela Áustria. Estas primeiras experiências, permitiram-lhe um contacto direto com as obras de mestres consagrados, fomentando o desenvolvimento das suas próprias capacidades artísticas.


Nymph Drawing her bow on a youth, c.1780, Angelica Kauffmann (1741-1807), Victoria and Albert Museum.

Em Londres, estabeleceu uma carreira fulgurante, firmando-se como uma das artistas mais proeminentes do país. A sua presença tornou-se influente nos círculos artísticos e sociais da capital britânica, sendo requisitada para realizar retratos de abastados, como o retrato abaixo de membros da família Spencer.


Portrait of Lady Georgiana, Lady Henrietta Frances and George John Spencer, Viscount Althorp (1774).


Após o seu matrimónio com o pintor veneziano Antonio Zucchi, Roma acolheu-a novamente. Na cidade eterna, fundou o seu próprio estúdio, continuando a receber encomendas de toda a Europa. Roma consagrou-se como o seu lar definitivo, testemunhando a continuidade da sua produção artística até o seu falecimento.


Self-Portrait Hesitating Between Painting and Music (1794). oil on canvas, 147 x: 216 cm. Nostell Priory, West Yorkshire


Kauffman cativou figuras de destaque nos campos da ciência, literatura e artes, como a pintora Elisabeth Vigée Le Brun e Goethe que em 1787 chegou a Roma e não tardou em se tornar um amigo muito próximo de Kauffmann.


Retrato de Johann Wolfgang von Goethe, 1787, Angelika Kauffmann, Goethe-Nationalmuseum (Weimar).


A vida de Angelika Kauffmann foi, portanto, uma verdadeira odisseia artística, marcada por viagens que não apenas a levaram a diferentes lugares, mas que também enriqueceram profundamente a sua arte e a consagraram como uma figura ímpar no panorama da pintura neoclássica europeia.

No site: https://www.angelika-kauffmann.de/ poderá encontrar o Projeto de Investigação sobre a artista, desenvolvido pela Doutora Bettina Baumgartel.



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