O álbum das antigualhas de Francisco de HOLANDA


Auto-retrato (1573)

Nascido em Lisboa, Francisco de HOLANDA ou Francisco d´Ollanda (1585-1517) é um manancial para qualquer historiador de arte: a formação humanista, as viagens, a vida próxima da corte, as teorias e reflexões deixadas por escrito, o álbum das antigualhas e seus últimos anos em ostracismo, traçam o perfil de um artista único em seu tempo na arte portuguesa. Difícil resistir a um legado tão peculiar e curioso.

A parte da sua vida que nos interessa é quando esteve em viagem, entre os anos de 1538 e 1540 acompanhando a comitiva do embaixador D. Pedro de Mascarenhas à Roma no reinado de D. João III. O jovem pintor com apenas 21 anos, foi contratado pela corte portuguesa com a finalidade de dar a conhecer em Portugal as obras de arte, património antigo e sociedade romana, para além de contribuir para o desenvolvimento do pintor. O roteiro da viagem era de carácter artístico, com fortalezas, edifícios antigos, ruínas, estátuas e pinturas.  Muitos consideram que essa viagem transformou a ótica artística de HOLANDA e, hoje em dia a importância desse deslocamento atrai inúmeros pesquisadores, das mais diversas áreas. Foi durante essa viagem que iniciou o "Álbum das Antigualhas", um diário de viagem em imagens. Hoje este álbum encontra-se na Biblioteca  de São Lourenço do Mosteiro Escorial - Madrid.

 

                     
Álbum das Antigualhas - Folha 1: Portada do álbum / Folha 5v Anfiteatro Romano ou Coliseu dos Flávios



Mais do que monumentos, sociedade e cultura, o álbum de Francisco de HOLANDA possui muitos desenhos alegóricos que fornecem aspetos da sua ótica particular sobre o que encontrou. Em Roma Imperial ou Roma Triunfante, Roma é referida como uma guerreira sustentada por seus troféus, envolvida pelos prisioneiros dos lugares conquistados. A vitória está representada pela folha de palmeira, a coroa de louros, o globo e o emblema com a águia imperial. Em Roma Desfeita é a Roma que não existe mais, apenas nas lembranças. Nesta, Roma é a mulher melancólica com os seios despidos denunciando “já não me pareço comigo mesma”, o espelho em suas mãos indica a vaidade dos impérios e das qualidades efémeras. 




Álbum das Antigualhas -Folha 3v Roma Imperial ou Roma Triunfante / Folha 4r Roma caída de sua grandeza ou Roma desfeita.




HOLANDA conjuga os princípios renascentistas da Natureza e da Antiguidade com uma expressão maneirista corroborada pela sua vivência cultural favorecida pela viagem. Nesse tempo de criação de um novo conceito artístico, acontece também uma mudança cultural que se desloca de Florença para Roma. Nesse sentido, encontramos a importância dos desenhos alegóricos “Roma Desfeita” e Roma Triunfante no Álbum das Antigualhas. Para além disso, a viagem à Roma o motivou escrever o tratado “Da Pintura Antiga”, onde desenvolve teorias sobre a pintura e reflexões sobre a importância da viagem para a evolução do pintor, como deixou escrito: Porém nesta coisa da pintura nunca crerei que alguém pode alcançar coisa que não seja pouca, nem menos na arquitetura e estuária, se não peregrinar daqui a Roma e por muitos dias e estudo não frequentar suas antigas e maravilhosas relíquias no primor das obras. E como eu isto alcancei, fui-me a Roma” (Santos, 2015).



Álbum das Antigualhas - Folha 51v Capela de Santa Casa de Loreto



Encontramos em HOLANDA uma teoria artística que fundamenta um discurso de preeminência da pintura diferenciando o artista do artífice. D´OLLANDA, um nome mais adequado ao nosso gosto por velharias, ficou impregnado do classicismo italiano e retorna à Portugal preocupado em disseminar as suas reflexões culturais e estéticas.


Para saber mais...


Lousa, Maria Teresa (2004). Francisco de Holanda: Ecos do Classicismo em Portugal. Dissertação de mestrado. Universidade de Lisboa. Faculdade de Belas Artes. Mestrado em Teorias da Arte.


Santos, Rogéria Olimpio dos (2015). O Álbum das Antigualhas de Francisco de Holanda. Tese doutoral do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora.


Souza, Maria Luiza Zanatta de (2018). A Viagem de Francisco de Holanda (c.1538-1540). Revista Diálogos Mediterrânicos. N. 15, Novembro, p. 11-30)



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